"A espada gasta a bainha, costuma dizer-se. Eis o que aconteceu comigo. As minhas paixões fizeram-me viver, e as minhas paixões mataram-me". (Jean Jacques Rousseau)

julho 31, 2014

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Tem dias que a angústia é tão forte, mas tão forte que parece que as mãos pegam o coração, com as artérias, as válvulas, os átrios e vão torcendo como se fosse um pano muito molhado de sangue. Girando uma no contrário da outra como se quisessem secar absolutamente tudo. Mas não para de pingar.
E quantos milhões de pensamentos vem vindo, um batendo no outro, passando por cima, pisoteando, como se fossem esfomeados diante de uma pequena caixa com alguma comida que possa lhes salvar da morte pela fome, e todos ao mesmo tempo tentam pegar a caixa mais vão se derrubando e caindo para os lados sem conseguir alcançar o que desejam. Pois quanto mais próximo chegam, mais uma corda se estica e puxa o pacote para longe.
Uma confusão que se forma entre medos e paranóias, pensamentos ruins. Melhor é rezar. Como quer que tenha aprendido. Ou você acaba explodindo a própria cabeça.
Não adianta tentar escapar. Melhor enfrentar.
O mundo anda muito mais estranho do que o estranho de sempre. Parece que vão se perdendo algumas cores. Vai ficando desbotado. Sem sentido. Sem porquê.
Dá uma vontade louca de pegar todo mundo que você ama e colocar num lugar onde a tempestade não possa chegar. Onde ninguém possa ser atingido. Onde o medo se transforme em luz e onde todas as tristezas, pouco a pouco vão se tornando flores com fortes e intensas colorações e o cheiro da chuva na grama verdinha, deixa o ar mais leve como se pudéssemos voar.
E estes dias assim... são longos e densos.
Necessários sim, para se pensar sobre a própria vida. Sobre o que fez de certo o que poderia ter evitado. Não me parece sentimento de culpa. Me parece um esgotamento espiritual. Como se fosse necessária uma recarga imediata de sentimentos e pensamentos bons. Para acalmar o peito, a alma e fechar a torneira dessa sensação escrota de que estamos eternamente na busca por uma espécie de felicidade que não sabemos exatamente quem plantou em nós, e numa insatisfação brutal e não sabemos o porquê.
Em dias assim é melhor fechar os olhos, tentar encontrar um abrigo escondido dentro de algum canto seu, que só você conhece. Onde ficam guardadas as boas lembranças, os sorrisos que ganhou e que ofereceu, o carinho que recebeu... O amor...
Deixa quieto.
Deixa a angústia passar, desfilando como se fosse uma escola de samba com todos os seus estandartes pontiagudos espetando cada pedaço da alma.
Porque quando o desfile acabar, estaremos mais fortes.
Sim, estaremos mais fortes.